Surfar ou Afundar?
Por Lívia Aparecida de Almeida e Sousa
Imagine, você, em frente a uma praia paradisíaca. Águas cristalinas. Brisa refrescante. Sol brilhando. Céu de Brigadeiro. De repente, o tempo fecha. Nuvens escuras se aproximam rapidamente. Rajadas de ventos fortes. Chão estremece. Recuo repentino das águas pré-anunciando o Tsunâmi que se forma bem na sua frente.
Foi, mais ou menos, isso que aconteceu no início da Pandemia provocada pelo Covid -19 em 2020 em várias áreas de nossa sociedade. Mas, no sistema educacional, a tragédia anunciada toma novas proporções. Ensino Remoto Emergencial (ERE), Ensino a Distância (EaD), Ensino Híbrido, Tecnologia Digital de Comunicação e Informação, esses entre outros termos que foram lançados ao mar de desconhecimento no campo didático e pedagógico em muitas realidades em nosso país e também em outras partes do mundo.
Pais sem saber o que fazer com os filhos em casa. Professores Youtubers e Designers Educacionais tendo que se reinventar para trabalhar seus conteúdos. Gestores de escolas públicas e privadas sem planejamento para conduzir o ano letivo em seus contextos. Escolas públicas sem aparato para fornecer minimamente apoio e estrutura tecnológica para suas equipes. Escolas privadas demitindo funcionários e também sem saber exatamente como agir diante do inesperado. Alunos de todos os níveis – da alfabetização ao ensino superior – tendo que interagir com plataformas virtuais de aprendizagem, muitas vezes silenciando seus microfones e fechando suas câmeras, quando possuíam esse recurso, é claro (como a pandemia revelou o imenso abismo digital da grande maioria da população brasileira).
Sabíamos, pelo resultado do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), que nossa colocação, no cenário internacional sobre o desempenho dos estudantes, não ia nada bem. A nota geral do Brasil está entre as mais baixas do mundo nas três áreas avaliadas, leitura (58º e 60º lugar em leitura), matemática (72º e 74º em matemática) e ciências (66º e 68º em ciências), resultados divulgados no quarto trimestre de 2019 – por conta das dificuldades enfrentadas com a pandemia de COVID-19, os países-membros e associados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) decidiram adiar a avaliação do Pisa 2021 para 2022 e do Pisa 2024 para 2025.
Mas, diante da realidade que se sobrepõe, que atitude tomar? Não existe fórmula mágica ou uma receita de como sobreviver a uma tragédia (anunciada há tempos no campo da educação, diga-se de passagem). Lamentar, procurar por culpados, cruzar os braços ou ficar paralisado diante do medo só nos levará ao esgotamento físico e mental e naufragaremos. Por outro lado, podemos buscar compreender a complexidade a nossa volta exercitando a empatia, interferir no que for possível, como pais, professores, gestores e cidadãos. Podemos, também, aproveitar para nos capacitar, por meio dos cursos ofertados no ciberespaço e por “lives” nacionais e internacionais com especialistas do Brasil e do mundo, realizadas gratuitamente, em grande parte. Ou seja, surfar sobre o Tsunâmi ou deixar-se levar por ele?