80 ANOS DE EMOÇÃO
Por Júnior Corrêa
No início da semana, segunda-feira (19), um dos filhos ilustres de Cachoeiro completou 80 anos de vida: Roberto Carlos Braga. O menino pobre, filho da dona Laura, que logo na infância sofreu um trágico acidente na linha do trem, perdendo parte de uma perna e logo na juventude se mudou para o Rio de Janeiro em busca de melhores perspectivas para o futuro, teve o seu aniversário lembrado por 210 milhões de brasileiros e milhares de estrangeiros que cresceram e se tornaram fãs ouvindo suas músicas.
Roberto, quando criança, sequer deveria pensar em sair de sua terra natal no propósito de trabalhar em outro estado ou que seria conhecido mundialmente. Seu sonho de ser cantor, a confiança no seu talento e a esperança de dar uma vida melhor para si e aos seus que o permitiu tomar coragem para sair de Cachoeiro e tentar uma vida melhor. Hoje, o cachoeirense pode se orgulhar de ter um conterrâneo considerado o rei da música popular brasileira.
Contudo, ainda essa semana uma polêmica rodou a cidade: a reforma da casa do Roberto Carlos em meio à crise pandêmica. O projeto tem por objetivo, adquirir terrenos adjacentes para melhorar a estrutura do entorno que pudesse ser um apoio à turistas, com restaurantes e lojinhas voltadas à memória do rei cachoeirense. Mas, essa ideia não agradou a todos, justamente por estarmos passando por um momento difícil na saúde pública e na economia, principalmente do comércio, do nosso país.
A intenção é preparar o ambiente para receber os fãs no ano que vem (2022), ano em que seria feito o último show da carreira do cantor na cidade. Porém, numa crise como a atual, qualquer investimento tem que priorizar o bem-estar da população, no caso, investimento direto na saúde. Tenho certeza de que se fizermos uma enquete, não haverá consenso, inclusive de mim.
Digo isso, porque eu sou um grande defensor que os nossos impostos sejam bem aplicados nas áreas certas, como saúde. Mas, como historiador, sei da importância da preservação da memória coletiva de povo em torno de seus mitos e exemplos. Para mim, reformar a casa do Roberto Carlos e fazer melhorias no entorno representa muito mais do que tijolos e tintas, mas grande parte da cultura musical cachoeirense e da construção do imaginário do nosso povo que nos trás um pouco de esperança de que certamente poderemos mais, se acreditarmos nos nossos sonhos.
Se me perguntarem, hoje, minha opinião, direi: eu não sei. Não sei se esse é o momento certo, já tivemos tantas outras oportunidades. Não sei se o município tem condições financeiras, a nossa economia está quebrada. Não sei se o cachoeirense vai gostar de ver seu dinheiro sendo usado para reforma, temos outras prioridades.
Não sei se a esperança que nos proporciona os exemplos culturais pode auxiliar a saúde para o corpo e para a alma. Mas, sei que Cachoeiro merece comemorar a vida e a sua história.