Deltan Dallagnol denuncia conluio de ministros do TSE na cassação de seu mandato político

Por Fernando Mathias

”Entregaram minha cabeça em troca da perspectiva de fortalecer candidatura ao Supremo”

Deltan Dallagnol, deputado federal cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), alega que os sete ministros da corte combinaram nos bastidores a decisão de retirar seu mandato antes mesmo de ser julgada pelo plenário.

O ex-coordenador da força-tarefa da Lava Jato, dirige suas críticas mais contundentes ao relator do processo, ministro Benedito Gonçalves. Em uma entrevista à Folha, ele afirma: “O ministro condutor do voto trouxe um voto que tem como objetivo entregar minha cabeça em troca da perspectiva de fortalecer sua candidatura ao Supremo”.

A decisão, tomada por unanimidade, ocorreu em 16 de maio. Segundo o deputado, os outros seis membros da corte eleitoral foram influenciados pelo governo Lula. Dallagnol afirma que ainda mantém esperanças de que os membros da Mesa Diretora da Câmara decidam ignorar a decisão do TSE e mantê-lo no cargo.

Ao ser questionado sobre sua avaliação da decisão do TSE, Dallagnol responde: “A decisão não apenas viola a lei e a Constituição, mas também fere o que há de mais sagrado na democracia, que é o poder do povo expresso pelo voto. Quando um tribunal faz isso fora das hipóteses legais, está colocando em risco nossa democracia”.

Ele destaca que a lei é clara ao determinar a inelegibilidade de membros do Ministério Público que saem durante um processo administrativo disciplinar. Ele argumenta que essa regra deve ser interpretada de forma restritiva e não expansiva. Ele compara a situação a acusar pessoas de corrupção na Lava Jato por fatos que não configuram corrupção, descrevendo-o como um exercício de futurologia combinado com leitura de mentes.

Dallagnol enfatiza que a unanimidade da decisão não enfraquece sua posição, destacando que todos os principais jornais do país expressaram editoriais nesse sentido e pessoas que tanto apoiaram quanto criticaram a Lava Jato compartilharam dessa visão. Ele menciona que organizações internacionais, como a Transparência Internacional, também afirmaram que essa decisão coloca em risco a democracia.

Deltan acredita que a decisão foi uma surpresa não apenas para ele, mas para todos que estudaram o caso. Alegando que a unanimidade da decisão em apenas 66 segundos demonstra que foi combinada, especialmente porque ministros do TSE asseguraram, em visitas, que ele era elegível e que não compactuariam com decisões políticas contrárias ao direito.

Questionado sobre os interesses por trás da decisão, Dallagnol menciona as duas vagas abertas no Supremo Tribunal Federal (STF) que são ambicionadas por ministros que estavam no TSE, seja para ocupá-las ou para indicar outros candidatos.

Ainda ressalta o poder do presidente da República ao escolher os integrantes do STF e afirma que muitos ministros e autoridades dançam conforme a música que o presidente decide tocar, sendo que a música clara tocada pelo atual presidente é a vingança contra a Lava Jato.