Parabéns, Cachoeiro!
Município comemora 154 anos de emancipação política
Nesta quinta-feira, dia 25 de março, Cachoeiro de Itapemirim completou 154 anos de emancipação política. Antes, o território pertencia a Itapemirim, em 1864 foi elevado à categoria de vila, e em 1867 se instalou aqui a Câmara Municipal e o território foi emancipado se tornando cidade. Tudo aconteceu após a mobilização de fazendeiros, pois Cachoeiro já era independente economicamente. De Itapemirim só restou a herança no nome do município.
Cachoeiro cresceu às margens do rio Itapemirim e deu início ao desenvolvimento do Sul do Estado. A cidade, apesar de não ser a Capital, foi pioneira no Estado em vários aspectos, sendo a primeira da região a receber luz elétrica e ainda teve acesso por ferrovia ao Rio de Janeiro, então capital brasileira, antes mesmo de Vitória.
É claro que muita coisa mudou do final do século XIX até agora, mas Cachoeiro não pode perder sua memória e precisa resgatar a história do seu “passado glorioso”. E na correria do dia a dia poucos percebem que uma das ruas mais famosas da cidade leva o nome da data da emancipação. A rua Vinte e Cinco de Março, a mais antiga de Cachoeiro, que foi palco de muitos movimentos importantes para a cidade, abriga construções históricas como a Casa dos Braga, o Centro Operário e a Casa da Memória. Além dos belos prédios, é um lugar que conta parte da história da cidade, mas que a maioria desconhece.
Além da relevância histórica, cultural e econômica, Cachoeiro também é importante para aqueles que vivem aqui. O bairrismo cachoeirense é famoso, e muitos afirmam que não trocariam a cidade por lugar nenhum.
É como disse Rubem Braga: “Sempre tenho confiança de que não serei maltratado na porta do céu, e mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disser em voz baixa: Eu sou lá de Cachoeiro…”.
Você Sabia?
Muita gente confunde emancipação política, data real do aniversário da cidade, com o dia de Cachoeiro. Em 1938 Newton Braga instituiu o “Dia de Cachoeiro”, quando também se festeja o padroeiro da cidade, São Pedro. A partir daí, o 29 de Junho passou a ser a data da maior festa da cidade e o dia 25 de março ficou menos popular.
Projetos curiosos, como o combate às formigas, marcam os primeiros anos de emancipação
Foi o presidente da Vila de Itapemirim que deu posse aos primeiros vereadores de Cachoeiro. A primeira Câmara contava com sete pessoas, sendo presidente o coronel Francisco Xavier Monteiro Nogueira da Gama. Naquela época, o presidente da Câmara exercia a função executiva e era o “prefeito” da cidade.
Em 1876, Cachoeiro foi elevada a categoria de Comarca e 13 anos depois já pôde ser chamada de cidade. Na verdade, o cargo de prefeito só foi criado em 1914. O primeiro prefeito foi o coronel Francisco de Carvalho Braga, pai de Newton e Rubem Braga.
Uma das primeiras aprovações da Câmara foi o combate às formigas. Os vereadores deram prazo de 60 dias para que os moradores acabassem com os formigueiros. Quem não conseguisse deveria pagar multa de 5 mil réis por formigueiro.
Também foi decretada uma lei que proibia dar gritos ou cantar pelas ruas à noite, a não ser para pedir socorro. E outra não permitia que as pessoas tomassem banho ou pescassem no rio sem estarem devidamente vestidas. Pescar de calção e sem camisa, nem pensar!
As rifas também eram proibidas na cidade, assim como andar com folias e bandeiras com o pretexto de pedir esmolas.
Os primeiros vereadores da cidade
Em 25 de Março de 1867 é instalada a primeira Câmara Municipal de Cachoeiro de Itapemirim, formada então por sete vereadores. O presidente, eleito pelos seus pares, era chamado de Intendente.
- Cel. Francisco Xavier Monteiro da Gama (Presidente)
- Dr. Joaquim Antônio de Oliveira Seabra
- Dr. Antônio Olinto Pinto Coelho
- Capitão Francisco de Souza Monteiro
- Capitão Pedro Dias de Prado
- Capitão José Vieira Machado
- Major Misael Ferreira de Paiva
Curiosidades: quando a Câmara administrava o Município
No início, a Câmara era autorizada a arrecadar as mais diversas rendas (impostos, taxas, dízimos, juros, etc.) e a utilizá-las para realizar as obras e serviços públicos, além do pagamento dos funcionários municipais.
Em 1877, a Câmara e a cadeia funcionavam numa casa particular alugada para tal fim. Também era a Câmara que controlava a aferição de pesos, balanças e medidas, além de visitar as ruas, estradas e calçamentos para verificar o estado de conservação – verificar o estado das fontes, dos chafarizes, limpeza de ruas, prédios arruinados, etc.
As indústrias que se tinham de estabelecer só o podiam fazer depois da respectiva licença da Câmara Municipal. O gado para consumo era recolhido a currais mandados construir pela Câmara, e era examinado pelo médico do partido da Câmara.
Procedia também da Câmara a licença para vender quitanda, ter casa de negócio de qualquer espécie, ou mascatear – incluía alfaiates, oficinas de qualquer espécie ou indústrias. E a ela competia conceder licença para espetáculos públicos, também para se construir gamboas, cercas, currais e para apanhar peixe. A Câmara também concedia a licença para serem conservados cães soltos, cabras leiteiras. As coleiras eram carimbadas na Câmara.
Os primeiros moradores
A primeira casa construída em Cachoeiro de Itapemirim foi de Manoel de Jesus Lacerda no ano de 1846. Logo depois foram surgindo as primeiras casas comerciais no centro da Vila, próximo à antiga matriz do Senhor dos Passos, sede da freguesia de São Pedro de Cachoeiro de Itapemirim. As casas se concentravam na rua Moreira, marginal ao rio, ou pelas suas transversais.
Além de Manoel de Jesus, outros cidadãos se estabeleceram no lugar entre os anos de 1840 a 1855, entre eles: Pedro Dias do Prado, Inácio de Loiola e Silva (que possuía a fazenda da Conceição), José Pires do Amorim (fazenda Boa Esperança), Antônio Francisco Moreira (fazenda da Gruta), Antônio Pinto da Cunha, José Pinheiro de Souza Werneck (fazenda Santa Tereza do Sumidouro), Bernardino Ferreira Rios e Francisco de Souza Monteiro (fazenda Monte Líbano).
Curiosamente, também o suíço Jean Moulaz já se achava na região desde 1837, segundo consta em documento lavrado em 1841. Quanto a Manoel de Jesus Lacerda, consta que era proprietário da fazenda Cobiça. Outras propriedades: Fazenda Bananal de Cima e Fruteira de Baixo (do Barão de Itapemirim), a fazenda Valão (de Severiano Monteiro de Souza), a fazenda Aquidaban (de Ildefonso de Silveira Viana), a fazenda Pau Brasil (de Francisco Salles Ferreira), a Fazenda Fruteira de Cima (de Aurélia Souto Machado, casada com Manoel de Araújo Souto Machado), a fazenda Safra (da viúva Josefa Souto Belo, administrada pelo irmão, Major Urbano Rodrigues Souto).
Pelos seus empreendimentos e coragem esse primeiro núcleo de povoadores foi bastante elogiado junto à Corte pelo Presidente da Província, Dr. Sebastião Machado Nunes, quando de sua visita à região do Itapemirim.
O desenvolvimento do comércio
O Dr. Manoel Cipriano da Franca Horta estabeleceu a primeira casa de comércio, numa das dependências do Armazém do Barão de Itapemirim, após abrir um pequeno colégio que teve curta duração. A partir da criação da freguesia de São Pedro das Caxoeiras do Itapemirim, em 16 de julho de 1856, o lugarejo não parou de crescer. O povoado contava com cerca de três mil e quinhentas pessoas, das quais aproximadamente duzentas e dez pessoas eram escravas.
O comércio foi aos poucos se desenvolvendo; surgiram as casas comerciais de Loiola & Silva, Jorge & Irmão, Quintais & Viveiros, Jerônimo Francisco, Bernardino Ferreira Rios, Luiz Bernardino da Costa (que tinha um serviço de pranchas para transporte de mercadorias), Marques Guardia & Cia., Pedro Teixeira Duarte, Casa Mineira, Casa Samuel (do francês Samuel Levy, que aqui chegou vendendo jóias) e Manoel José de Araújo Machado.
A primeira ponte da cidade
Era Presidente da Câmara o doutor Gil Goulart. De acordo com o Presidente da Província ficou resolvido que se arranjasse com os capitalistas de Cachoeiro dinheiro emprestado para construir uma ponte sobre o Rio Itapemirim, pois a cidade tinha necessidade de uma ligação entre as duas margens. A construção foi entregue ao tenente-coronel Ildefonso da Silveira Viana, que a apresentou concluída no dia 10 de junho de 1887. Sua estrutura metálica foi importada da Alemanha.
O local mais apropriado estava situado entre as casas de negócios dos portugueses Capitão Luiz Bernardino da Costa e Manoel José de Araújo Machado, quase em frente à via que dava acesso ao Largo de São João, do lado sul, com acesso ao lado norte à Chácara de Gil Goulart (onde hoje está o Colégio Cristo Rei). A ponte tinha cento e quatorze metros de comprimento, três metros e meio de largura, dezesseis de altura. Foram construídas ainda as praças Gil Goulart, na extremidade norte da ponte, e a Coronel Silveira, no lado sul.
As despesas com a construção da ponte foram amortizadas com dinheiro arrecadado de pedágio, possivelmente o primeiro do Estado. Esse sistema vigorou até 1920, quando a passagem foi liberada ao povo gratuitamente. Com a era do automóvel a ponte se tornou obsoleta, obrigando a construção da ponte Fernando Abreu, inaugurada em 3 de fevereiro de 1954, ao lado da antiga, que teve sua estrutura metálica vendida como sucata em 1965. O custo da ponte foi de Rs. 47:610$912, mas depois de concluída seu valor chegou a mais de 60:000$000 reis.
Ciclos da economia que fizeram a história do Município:
• Ouro
• Cana-de-açúcar
• Café
• Pecuária
• Indústria de Mármore e Granito
(Fonte: Voltando ao Cachoeiro Antigo, de Manoel Gonçalves Maciel)
HINO DE CACHOEIRO DE ITAPEMIRIM
Autor: Raul Sampaio – Gravado por Roberto Carlos em 1969
A canção “Meu pequeno Cachoeiro” tornou-se Hino Oficial de Cachoeiro de Itapemirim com a aprovação da Lei Municipal nº 1072 de 28/07/66.
MEU PEQUENO CACHOEIRO
Eu passo a vida recordando
De tudo quanto aí deixei.
Cachoeiro, Cachoeiro
Vim ao Rio de Janeiro
Pra voltar e não voltei.
Mas te confesso, na saudade
As dores que arranjei pra mim
Pois todo pranto destas mágoas
Inda irei juntar às águas do teu Itapemirim.
Meu pequeno Cachoeiro
Vivo só pensando em ti
Ai que saudade dessas terras
Entre as serras
Doce terra onde eu nasci
Recordo a casa onde eu morava
O muro alto, o laranjal
Meu flamboyant na primavera,
Que bonito que ele era
Dando sombra no quintal
A minha escola, a minha rua
Os meus primeiros madrigais
Ai como o pensamento voa
Ao lembrar da terra boa
Coisas que não voltam mais.