A leitura transforma
Por Weverton Santiago
O ano era 1988, eu tinha apenas 11 anos e muita curiosidade sobre o mundo e seus eventos. A situação financeira da minha família era precária e a cultura do trabalho infantil uma realidade bem próxima. Como gostava de ler e de conhecer assuntos que pareciam distantes, decidi virar vendedor de jornal. Assim, eu poderia ler os exemplares diários, sem nenhum custo e ainda ganhar uns trocados.
Lembro quando fui conversar com o dono da distribuidora, dizendo que queria vender jornal, ele olhou para o meu corpo franzino e me alertou: “menino, aqui o serviço é meio puxado, tem que chegar bem cedo, organizar o jornal e depois carregar na cabeça, porque não temos bicicleta. Acho que você é muito pequeno para desempenhar tal tarefa. Quer mesmo fazer um teste?” Prontamente, respondi que sim.
Sai da “entrevista” todo feliz e tomado de ansiedade. Passei a acordar todos os dias às 04h00 da manhã e enfrentar uma escura caminhada até a rua do santuário de Vila Velha para o meu posto inicial. Chegando lá, ajudava a organizar o jornal e depois encarava outra “procissão” até o bairro da glória, meu ponto de venda. Entre um cliente e outro e as manchas de carbono nas mãos, eu aproveitava para olhar as principais chamadas: “esporte, política, classificados, economia e o tal caderno dois”. Ao final da manhã, vendia todos os exemplares, voltava ao centro de distribuição, acertava as contas e ganhava o meu dinheirinho. Para estranheza do dono, Sr. Edmar, eu ficava um pouco mais para ler todo o jornal. Detalhe, de graça.
Isso virou um hábito e o proprietário me contratou para cuidar de outras áreas, controlar a organização, distribuição dos exemplares e fazer parte do acerto financeiro com os demais jornaleiros. Porém, minha motivação era apenas ler e saber como aquelas pessoas, colunistas, jornalistas e repórteres dominavam tanta informação, era fascinante. Lembro das vezes que me intrometia nas conversas dos adultos e eles olhavam para o tinhoso pirralho com espanto. Olha, não foram poucos os cascudos que levei por tamanha ousadia.
Enfim, boas lembranças de fases difíceis, mas que serviram para formar meu intelecto e o homem que me tornei, onde a política sempre foi uma grande paixão, um prazeroso objeto de estudo e a viva consciência que a fé política é o principal instrumento de transformação social.
A leitura, transforma!