A sutil presunção do ser humano
Por Lívia A. A. Sousa
Nestes dias, eu e meu filho aprendemos uma lição: a arte da espera.
Desde muito cedo, somos acostumados a ter tudo na mão o mais rápido possível. Se o bebê chora, logo damos o leite. Se a criança faz pirraça, entregamos um dispositivo eletrônico para distraí-la. Ao chegar à adolescência, sentimos que o mundo não é tão sólido e não há uma pronta-resposta para as nossas necessidades quanto imaginávamos. Porém, não nos ensinaram o valor do processo. Talvez pensássemos que valorizar o movimento de conquista fosse algo inato, ou seja, que já nascemos com ele.
A questão é: não nascemos sabendo amar, odiar, negociar, respeitar, frustrar, esperar. Tudo isso e muito mais aprendemos com e em relação ao outro. Meu filho de 7 anos queria muito uma cadeira gamer, queria muito jogar “Fortinite” on-line, queria muito ter um canal de YouTube. É difícil para os pais dizer não e explicar as razões da negativa. Explicar a falta de dinheiro, explicar a inadequação para a faixa etária e explicar que, para se atingir um objetivo, é necessário que haja um processo de maturação.
Lidar com a frustração, por exemplo, é uma lição que deve ser aprendida desde bebê. Somos um ser instintivo, egocêntrico e, também, social. Precisamos de referências a nossa volta para moldarmos nossas linguagens, construirmos pensamentos mais complexos e aprendermos a desenvolver atitudes mais proativas, mais responsivas, mais criativas e críticas. Dessa forma, se não aprendemos, na infância, a compreender a arte da espera e da escuta sensível, corremos o risco de nos tornarmos adultos infantilizados e débeis, que não conseguem gerenciar suas próprias frustrações.
Pensamos que detemos o controle de tudo que nos circunda: do que seremos quando crescermos; de quem somos; nossos horários; nossas tarefas; nossas identidades como filhos, pais, namorados, cônjuges…
Há um discurso, influenciado pelo mercado de trabalho, muito comum nas escolas que é o foco nos resultados. Currículo por competência. Atividades eficazes e eficientes para desenvolver habilidades. Metodologias ativas que promovam protagonismo do aluno. Como se existisse uma receita pronta e que, seguindo o passo a passo, teríamos o controle do mesmo resultado sempre de igual forma para todos.
Não aprendemos igualmente para obtermos os mesmos resultados, aprendemos no processo em busca de possibilidades de ser nas distintas circunstâncias da vida. Então, por que temos a pretensão de uma Base Curricular Única? Por que presumimos que o saber científico é o único que precisa ser aprendido na escola?
Casa, escola, trabalho, comunidades nos ensinam a ser na experiência vivida a cada instante. E cada momento desse é inédito, fugidio e inesperado. Aprendemos dia a dia lições que poderiam parecer óbvias, mas nos ensinam a arte de conviver de forma mais crítica, reflexiva e consciente de nossa ação para um mundo melhor para todos e todas, pois, diante do incerto; do inesperado, como conjeturamos controlar o amanhã ou os que estão ao nosso redor?