Ceeja de Cachoeiro promove evento sobre Consciência Negra e entrega certificado à Maria Laurinda
Professores e funcionários da instituição durante entrega de certificados à dona Laurinda, nesta qurarta-feira
A manhã de hoje (24) foi de muita alegria e comemoração no Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos (CEEJA) de Cachoeiro de Itapemirim. Maria Laurinda Adão, quilombola, mestra de Caxambu e moradora do Quilombo de Monte Alegre, no município de Cachoeiro, acaba de se formar no Ensino Fundamental I. Aos 78 anos e com pouco estudo, ela entendeu que nunca é tarde para realizar seus sonhos.
Um dos ícones da cultura afro em nosso município, dona Laurinda ganhou o certificado de conclusão de 1ª ao 5ª ano. Ela também recebeu, de toda a equipe do CEEJA, um diploma de honra ao mérito devido ao trabalho desenvolvido para manutenção da história e da cultura negra em Cachoeiro de Itapemirim e região.
Agora, ela está apta a começar as aulas no Fundamental II e, já saiu de lá com todas as apostilas para iniciar essa nova fase dos estudos.
A solenidade aconteceu em alusão ao Dia da Consciência Negra, comemorado no último sábado, 20 de novembro. Outro ponto alto da festa foi a apresentação de dança do grupo quilombola de Pedra Branca, distrito de Vargem Alta. A maioria dos dançarinos também são alunos da instituição.
Trabalho nos quilombos
O Centro Estadual de Educação para Jovens e Adultos de Cachoeiro realiza um trabalho muito importante para a promoção da educação. Equipes visitam comunidades de difícil acesso, como os quilombos, em busca de possíveis alunos.
Todo esse trabalho tem surtido efeito. Chamado de “Ceeja Vencendo Fronteiras”, o projeto tem como objetivo levar as pessoas o conhecimento do modelo de ensino e facilitar para que se matriculem.
Dona Laurinda é prova disso. Uma visita recente à comunidade de Monte Alegre, despertou nela a vontade de aprender a ler e escrever e, foi assim, que ela se matriculou. Com o grupo quilombola de Pedra Branca também foi assim.
Segundo Michelle Fonseca Nasr, gestora do Centro de Educação, essa é uma oportunidade para quem não concluiu os estudos no tempo regular, conseguir certificação sem atrapalhar o cotidiano, com aulas on-line e avaliações presenciais.
“O CEEJA cuidadosamente está realizando um trabalho de divulgação em áreas de difícil acesso, como os quilombos. Nosso objetivo é mostrar que todos podem estudar e adquirir sua certificação, de forma a ter o necessário para protagonizar sua vida no trabalho ou mesmo continuar seus estudos acadêmicos”.
Depoimentos
Dona Laurinda não escondeu a felicidade durante toda a homenagem. Ela contou que saber ler e escrever vai ajudá-la e muito daqui para frente.
“Esse é mais um passo na minha vida, estou muito feliz e muito alegre. Eu tinha pouco leitura e por conta das apresentações, preciso viajar e, saber ler, vai me ajudar muito. Além disso, não pretendo parar por aqui, vou continuar estudando e já vou sair daqui com minhas novas apostilas”.
Valnêi Alemães Stephanato, professor em história na instituição, contou com alegria a importância da cultura quilombola e de dona Laurinda para todo o país.
“Jacques Le Goff afirmou que ‘todo poder quer ser senhor da memória e que os quilombolas são uma forma de resistência viva no Espírito Santo e no Brasil’. Dona Laurinda representa a cultura e todos os quilombos espalhados por nosso país”.