Desilusão? Erica Neves fala sobre os 100 primeiros Dias da OAB
Advogada, especialista em Direito Empresarial e do Consumidor, obteve 36,48% dos votos na disputa com José Carlos Rizk e aponta perseguição e omissão nos primeiros três meses da gestão do presidente reeleito: “Já ouço muita gente arrependida e decepcionada”. Confira entrevista com Erica onde ela fala sobre suas impressões dos primeiros 100 dias da gestão reeleita na OAB, sobre a advocacia e sobre como pretende se posicionar até a próxima eleição.
1) Qual avaliação a Sra faz dos 100 dias da atual gestão da OAB-ES?
Estamos assistindo mais do mesmo de uma mesma gestão que não foi bem avaliada nas urnas pela advocacia apta a votar. O que vemos é a intensificação da utilização da instituição para fins políticos e interesses próprios, expondo a nossa Casa em processos que não defendem nada da advocacia, mas, sim, colegas do atual presidente. Vemos a instituição ajuizando ação civil pública que tem objeto já analisado pelo Poder Judiciário com claro intuito de interferir na política partidária e com claro desvio de finalidade, incluindo advogados no polo passivo sem autorização do conselho. O cenário é muito complicado. A atual gestão continua ausente das discussões que interessam à advocacia no âmbito da Justiça Comum e, por fim, o espírito perseguidor ficou ainda mais explícito e com mais força com o desmembramento de subseções e retirada de funcionários onde a gestão da seccional perdeu em votos.
Eu não teria problema em elogiar algo bom que surgiu nos últimos anos, como o drive-thru, que agora acabou e eu, se eleita, teria mantido, ampliado atendimento e implantado em mais locais. A questão é que a gestão não tem articulação para fazer nada em favor do advogado da ponta, do fórum. E já começou seus 100 dias de continuidade parecendo 100 dias de desilusão. A verdade é que eu ouço pessoas que não votaram em mim, e que votaram na atual gestão, já se dizendo arrependidas e decepcionadas, devido ao perfil perseguidor adotado e à omissão também.
2) A sra pretende se posicionar de que forma?
Nosso grupo se posiciona e sempre se posicionou ao lado da advocacia e, nesse vácuo de representação na Justiça Comum, vamos continuar ajudando a advocacia da forma que for possível. Estamos conversando com atores do Poder Judiciário de forma a resolver questões pontuais, sem estardalhaço midiático, pois o que nos importa é cooperar em favor da advocacia. Em breve esperamos ter novidades.
3) A sra já iniciou articulações com vista às próximas eleições?
Muita gente me perguntou nos últimos meses o motivo do meu silêncio. Respeito a democracia e o resultado das urnas. Mas, passados os primeiros 100 dias de gestão do presidente reeleito, pode ter a certeza de que vou me posicionar sobre todos os assuntos que considerar relevantes. A verdade é que o resultado foi positivo para quem, como eu, concretizou uma campanha a 40 dias do pleito. A nosso ver, os quase 37% que tivemos, somados aos 30% que estavam aptos e não votaram, nos mostram uma rejeição da gestão atual que nem a máquina sendo utilizada e o dinheiro farto gasto na campanha da posição foram suficientes para resolver. Há um cansaço da classe. E esse reinício fraco só reforça esse sentimento.
4) Pretende atrair novos aliados?
Sim, sempre! A história do nosso grupo é de aglutinação e qualidade em favor da advocacia. Onde estiver alguém que possa ajudar na campanha e possa ajudar a entregar uma boa gestão para a advocacia, diga-me que estarei lá no outro dia para tomar um café com ele ou ela.
5) Há chance de composição com o atual presidente?
Não, nenhuma chance. Conversamos no passado, mas nossos valores e posturas são muito diferentes, pois temos uma história de vida completamente diferentes, que fazem com que tenhamos uma visão da OAB absolutamente oposta. Não bastasse, os atos que o grupo dele praticou na campanha e após a campanha, como na eleição do quinto constitucional, acabaram com qualquer ambiente que pudesse pavimentar uma ponte entre nós.
6) Seu grupo permanece unido?
Mais unido do que antes, pois acredito que conquistei a confiança ainda maior dos meus colegas em relação à força e empenho na caminhada difícil que é uma campanha de Ordem. E esta força tem origem, vem em sentir o apelo dos colegas que penam com o desrespeito da nossa profissão e com desvalorização da advocacia na gestão do sistema judicial. Com essa confiança, o agrupamento está ainda maior, com uma visão maior do processo e com mais ideias para a advocacia – em especial para a jovem advocacia.