ESCLARECIMENTOS SOBRE A COVID-19
Essa semana, tenho a honra de participar da minha coluna o conceituado médico Dr. Adriano Munhões Martins, bem como agradecê-lo por responder as minhas perguntas, formuladas a título de elucidar dúvidas sobre a Covid-19. A população segue assustada com as cepas e aumentos dos registros de óbitos que assolam o mundo e imprevisões quanto ao futuro. Espero que a ciência entregue um imunizante bem eficaz contra o coronavírus e que cessem os falecimentos de tantos entes queridos.
• Como se encontra a situação em Cachoeiro em relação a COVID-19?
A situação da COVID-19 em Cachoeiro, assim como no resto do Estado e do país, é assustadora. O número de novos casos subiu vertiginosamente, em uma velocidade em que a abertura de novos leitos de enfermaria ou UTI não puderam acompanhar. Com a maior necessidade de internação de novos pacientes, o sistema se encontra à beira do colapso, com vários pacientes aguardando em Unidades de Pronto Atendimento, por um leito adequado. Fora a situação crítica de medicamentos e insumos vitais para o bom cuidados com os pacientes graves. Situação que jamais imaginamos passar.
• Com as mutações do vírus, quais as orientações em caso de início de sintomas?
Frente as variantes virais, as orientações para o público em geral, em caso de início de sintomas, continuam basicamente as mesmas, visto que os sintomas continuam os mesmos. O que diferencia essas variantes é sua capacidade de disseminação, ou letalidade. Mas a apresentação sintomatológica não varia tanto. Assim sendo, além dos cuidados que todos nós sabemos (mas nem todos praticamos), de uso de máscara, higiene geral, e distanciamento social, continua a orientação que, em caso de aparecimento de sintomas respiratórios leves, febre baixa, perda de olfato e ou paladar, deve procurar atendimento nas unidades básicas. Em caso de sintomas mais graves, febre alta, falta de ar, fraqueza intensa, deve procurar imediatamente atendimento médico nas unidades de pronto atendimento. Jamais negligenciar os sintomas.
• Qual sua posição em relação ao uso constante de 15/15 dias da ivermectina?
Meu posicionamento frente ao uso da ivermectina para a Covid-19, é o mesmo que para o uso de qualquer medicamento para tratar qualquer doença. Deve ser usado após estudos longos, feitos da forma correta, embasados por veículos de credibilidade. Ainda não temos base concreta e fiel que respaldo do uso deste medicamento, seja para prevenir, ou tratar a Covid. Ele não impacta no número de novos casos, no número de internações, não diminui tempo de internação ou óbitos. Por isso, ainda não é medicação que faz parte do meu receituário para Covid, por assim dizer. Reitero que este é meu posicionamento atual, e que, caso seja provado no futuro, a eficácia do medicamento, ele pode mudar. Bem como respeito a conduta dos colegas que optam por condutas diferentes. Mas não podemos esquecer que evidências clínicas e estudos bem conduzidos, são os melhores caminhos para criar protocolos clínicos para todas as doenças, desde AVC, infarto, até a Covid-19.
• Sempre me orientaram sobre o uso de antibióticos, que não se deve usar em intervalos pequenos de tempo, eis que o organismo pode ficar resistente à ação do medicamento. Qual sua posição sobre prescrições diretas da azitromicina?
O uso indiscriminado da azitromicina, para pacientes suspeitos ou confirmados com a Covid-19 já é uma situação ainda mais peculiar. Azitromicina é um antibiótico, antibiótico é para tratar doenças causadas por bactérias. A Covid-19 é causada por um vírus. Antibiótico não combate vírus. Em resumo, está se usando de forma indiscriminada um medicamento usado apenas contra bactéria, para matar um vírus. É um contrassenso. Não fosse essa falta de lógica, o uso abusivo de antibióticos pode sim selecionar bactérias multirresistentes, cursando com um quadro infeccioso oportunista que pode degradar ainda mais o já combalido sistema de defesa do paciente infectado pela Covid-19. Abro aqui espaço para citar os pacientes que evoluem com uma coinfecção (Covid-19, e bacteriana). Esses pacientes deverão ser individualmente investigados, e em caso de constatado a existência de infecção bacteriana, ser prescrito o antibiótico ideal para cada caso.
• Qual sua posição em relação às pessoas que gripam constantemente, mesmo tomando a vacina contra gripe, anualmente, mas que têm rinite alérgica com frequência, nessa pandemia, que os sintomas gripais se confundem com os da Covid-19?
As pessoas vacinadas contra gripe, ainda podem gripar. Existem centenas de vírus da gripe, e a vacina confere aos vacinados uma resposta imune mais eficaz contra as principais cepas. Aos pacientes que gripam, têm rinite alérgica, ou qualquer outra enfermidade do trato respiratório, até que se prove o contrário, é suspeito também de Covid. Nesse período de pandemia, todos os pacientes com tais sintomas devem ser investigados quanto a suspeição de infecção pelo coronavírus, para que as devidas medidas, seja de isolamento para frear a proliferação, seja do tratamento adequado e individualizado que este paciente precisa, seja fornecido. Sempre procure atendimento médico. É melhor descobrir que está apenas com uma rinite, do que negligenciar e descobrir tardiamente um quadro mais grave da Covid. Não podemos esquecer que a maioria dos pacientes infectados pelo coronavírus têm um curso brando da doença.
• Qual a diferença entre mutação, variante e cepa?
Tentando resumir, o código genético do coronavirus 19 é constituído de RNA. Que, por sua vez, usa todo aparato de uma célula hospedeira para se replicar. Durante esse processo de replicação, erros no código genético do vírus base podem ocorrer. Isso resulta em vírus semelhantes mas não idênticos ao original. Esses “erros” de replicação são chamados de mutações, e os vírus com essas mutações, são chamados de variantes. Quando essa alteração genética consegue se projetar como uma manifestação mais exacerbada ou mais alterada, de alguma característica do vírus original, ela é chamada de cepa. Por exemplo, se uma nova variante é mais letal, ou mais transmissível, ou reflete em sintomas mais graves, ela passa a ser considerada como uma cepa, pois difere da apresentação original.
• O grande pavor da população consiste em ser intubado nos hospitais devido o relato de problemas! Qual sua posição quanto a isso?
A intubação orotraqueal é uma medida amplamente difundida e usada em pacientes graves, com as mais variadas condições, de modo a garantir uma adequada e segura via de ventilação. No caso específico da Covid, quando ela evolui para uma síndrome respiratória aguda grave, uma cascata inflamatória devastadora compromete a capacidade pulmonar do paciente. E em alguns casos é necessário sim a intubação, para que este paciente ganhe tempo e condições do seu organismo responder de forma adequada as repercussões desta doença. Em resumo, por mais aterrador que possa ser para o paciente, em muitos casos, a intubação é a medida mais eficaz para salvar os doentes.
Dr. Adriano Munhões Martins, médico cachoeirense, pós-graduado em Medicina Intensiva, atualmente plantonista do Pronto Atendimento Paulo Pereira Gomes, do Hospital Evangélico de Cachoeiro e no HIFA Aquidaban – Unidade Covid, todos em Cachoeiro.
Fotos: Ronald Ayres