Filme sobre moradores de São José da Torres estreia nessa sexta-feira
As histórias de diversos moradores de São José da Torres, distrito de Mimoso do Sul, protagonizam o Documentário Entretorres. Foto: Ariny Bianchi
Estreia nessa sexta-feira (7), às 19h30, o filme Entretorres, da diretora Fabíola Buzim, no YouTube, gratuitamente. O filme ficará disponível até a madrugada de domingo (9) para segunda-feira (10). O projeto foi financiado pela Lei de Fomento de Audiovisual da Secult-ES/Funcultura.
De quantas histórias é formada a história de uma cidade? Foi a partir desta questão que nasceu Entretorres, um documentário que não “fala sobre”, mas “fala com” os moradores de São José da Torres, distrito de Mimoso do Sul, no sul do Espírito Santo. A responsabilidade de conduzir a narrativa foi dada aos personagens que, junto com a diretora e o roteiro, constroem no filme as verdades possíveis da localidade. Verdades sobre histórias de terror e assombração, de amores, de sexualidades dissidentes, de violências e crimes, de festas, lendas, opressões, de alegrias, de vida.
Os moradores, atores que narraram suas próprias histórias, conduziram a um roteiro que abandonou a pretensão de apresentar verdades sobre aquelas pessoas, suas territorialidades, e também sobre as subjetividades com as quais se relacionam com o mundo. As verdades são deles e não sobre eles, somando-se a isso o reconhecimento do próprio filme, e de sua diretora, de que existe implicação dos realizadores com a história contada. Também reconhece-se que as intervenções feitas pela equipe durante a filmagem interferem nas narrativas. O resultado é um movimento de busca por uma relação simétrica entre a direção e os moradores de São José das Torres.
Projeto
Foi através de uma circulação teatral, em 2012, que a atriz e diretora capixaba, Fabiola Buzim conheceu o pequeno distrito de São José das Torres. Após a apresentação do espetáculo, ela permaneceu na cidade por uma noite, tempo suficiente para mudar sua forma de ver e de deixar que a fizessem ver as cidades do interior.
A narrativa do filme manteve a incerteza sobre as respostas acerca do distrito para que nem realizadores impusessem sua leitura sobre as histórias e nem os donos da narrativa se fechassem às intervenções dos realizadores. Esta perspectiva é derivada da teoria ator-rede do francês Bruno Latour. Realizadores também são protagonistas nesse processo e a narrativa se constrói a partir de uma proposição na qual todos fazem alguma coisa e não ficam apenas observando. Em vez de simplesmente transportar efeitos sem transformá-los, cada um pode se tornar uma encruzilhada, um evento ou a origem de uma nova translação. Os atores não são intermediários, mas mediadores que tornam visível ao espectador o movimento do social.
O filme também toma emprestada ideias de Walter Benjamin, em “O Narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov”, para privilegiar as narrativas em detrimento da informação, o que leva a outro importante influenciador: Ítalo Calvino, em seu livro Cidades Invisíveis. As reflexões da obra sobre as ciladas preparadas para os que têm a pretensão de descrever uma cidade observando suas paisagens e aparentes obviedades também contribuíram para a construção do filme.