O modo como as pessoas nos veem importa, e muito!
Por Renata Nardotto
Wilkinson, R. & Pickett, K. (2015).
O nível: porque uma sociedade igualitária é melhor para todos.
Capítulo 3: Como a Desigualdade deixa Marcas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
“É bem certo que cada homem carrega nos olhos a indicação exata de sua posição na imensa escala dos homens e nós estamos sempre aprendendo a lê-la.” Ralph Waldo Emerson, The Conduct of Life (A condução da vida)
A leitura do texto acima referenciado, que trata da relação entre a desigualdade e uma vasta série de problemas sociais, me proporcionou várias reflexões a respeito do que torna o ser humano tão sensível às desigualdades e das suas consequências devastadoras à saúde mental e física dos indivíduos e, por consequência, das organizações e da sociedade como um todo.
O autor contextualiza como, ao longo das últimas décadas, a ansiedade e depressão vêm crescendo de forma vertiginosa no mundo, e como essas doenças são agravadas pela desigualdade, arraigada no sentimento de inferioridade e exclusão social. Essa correlação é provada quando pesquisas conseguem constatar três fontes poderosas de estresse que aumentam os níveis de cortisol: baixo status social, falta de amigos e estresse no início da vida.
Esses três fatores são propulsores da falta de apreciação por nós mesmos.
Ainda, pesquisas sugerem que os níveis de cortisol são significativamente aumentados quando somos expostos a situações que incluem “uma ameaça de avaliação social (tais como ameaças à autoestima ou ao status social), em que outros poderiam criticar negativamente o desempenho”.
O psicanalista Alfred Adler afirma que: “Ser humano significa sentir-se inferior”. Segundo o autor, talvez devesse ter dito que: “Ser humano significa ser altamente sensível sobre ser encarado como inferior.”
É evidente a conclusão de que o modo como as pessoas nos veem importa, e muito!
Quando trazemos essa análise filosófica para a gestão de pessoas, conseguimos perceber o tamanho da responsabilidade de um líder, não simplesmente em evitar danos à autoestima e, por consequência, o desencadeamento de doenças físicas e mentais, mas sim em fomentar a autoconfiança, o sentimento de pertencimento e a reciprocidade nas relações. Como? Dando espaço para o erro, aprendizado e superação, dando e recebendo feedbacks e praticando a comunicação empática, valorizando a diversidade e a pluralidade de talentos e ideias.
Os líderes são os responsáveis pela construção e manutenção de ambientes corporativos que conduzam e orientem cada colaborador a dar o melhor de si.
“O maior líder não é necessariamente aquele que faz as maiores coisas. Ele é aquele que faz com que as pessoas façam coisas grandiosas.” (Ronald Reagan)
Renata Nardotto é Diretora Executiva da Caixa Loterias. Economista, Mestranda em Gestão Pública, Pós-graduada em Finanças Corporativas, M&A e Equity pela PUC-RS e Pós MBA em Inteligência Empresarial pela FGV.