Trump terá rara supermaioria e poder para aprovar amplas reformas
As eleições desta terça-feira (5) devem gerar uma concentração de poder que há décadas não acontece nos Estados Unidos. O Partido Republicano deve ficar com a Presidência, a maioria no Senado, na Câmara e uma sólida maioria na Suprema Corte. Isso não ocorria desde o final dos anos 60.
Essa supermaioria pode permitir aos republicanos realizar amplas reformas conservadoras no país.
O republicano Donald Trump estava perto de vencer a eleição presidencial nos EUA na madrugada desta quarta-feira (6). Segundo projeção da Associated Press às 5h50 (horário de Brasília), ele já tinha 267 votos no Colégio Eleitoral que elege o presidente dos EUA. São necessários 270 votos para ser eleito. Ou seja, para derrotar Trump, a democrata Kamala Harris precisaria levar todos os demais Estados em disputa, o que seria extremamente improvável. Trump estava virtualmente eleito.
No Senado dos EUA, os republicanos terão maioria de no mínimo duas cadeiras, mas que pode ainda aumentar para até quatro à medida que a apuração avançar.
A definição da maioria na Câmara dos Deputados pode demorar um pouco ainda. Mas tudo indica que a onda que elegeu Trump e deu o Senado aos republicanos deve também gerar uma maioria na Câmara.
Já aconteceu várias vezes de um partido controlar o Executivo e o Legislativo nos Estados Unidos. O próprio Trump, em seu primeiro mandato (2017-2021), teve maioria no Congresso nos dois anos iniciais.
Mas fazia décadas que nenhum partido tinha, além do controle do Executivo e do Legislativo, também uma maioria sólida na Suprema Corte.
Até 2020, os republicanos tinham uma maioria simples, de 5 a 4, no principal corte dos EUA. Naquele ano Trump fez mais uma indicação, para uma vaga aberta, e ampliou a maioria para 6 a 3. Em um novo mandato, o republicano poderá ter a oportunidade de nomear mais juízes conservadores.
Essa maioria sólida de 6 a 3 é muito importante, pois permite à Suprema Corte tomar decisões polêmicas, que de outro modo não tomaria. O caso do direito ao aborto é emblemático. Em 1973, a Suprema Corte, então com sólida maioria democrata, aprovou a garantia do direito ao aborto, no célebre caso Roe x Wade.
Desde então, os republicanos buscavam derrubar essa decisão, mas nunca ousaram fazê-lo com uma maioria de 5 a 4. Após Trump formar a maioria de 6 a 3, a Suprema Corte reverteu a decisão de 1973 e derrubou a garantia ao aborto.
A última vez que essa supermaioria nos três poderes ocorreu foi no governo do democrata Lyndon Johnson (1963-1969). Isso permitiu a aprovação das históricas reformas dos direitos civis, que acabaram com a política de segregação racial nos EUA.
No comunicado de setembro em que anunciou o seu apoio à candidata democrata Kamala Harris, o ex-vice-presidente republicano Dick Cheney disse: “Nos 248 anos de história da nossa nação, nunca houve um indivíduo que representasse uma ameaça maior para a nossa república do que Donald Trump. Ele tentou roubar as últimas eleições usando mentiras e violência para se manter no poder, depois de os eleitores o terem rejeitado. Nunca mais poderemos confiar poder a ele.”
Pois nesta terça-feira os americanos não apenas reelegeram Trump como deram a ele um poder sem precedentes nos últimos 55 anos nos EUA.