Pesquisadores do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) traçaram um panorama inédito sobre a produção e o processamento de uvas no Espírito Santo, oitavo maior produtor da fruta no Brasil. O levantamento identificou que apenas 26,16% da produção estadual de uvas é processada em agroindústrias, o que evidencia o potencial para desenvolvimento e expansão dessa atividade no Estado.
A pesquisa ouviu 86 produtores de uva dos municípios de Santa Teresa, Alfredo Chaves, Domingos Martins, Vargem Alta e Vendo Nova do Imigrante. A produção da fruta nestes municípios representou 57,3% do total do Estado.
Na atividade, predominam agricultores familiares, sendo que 70,9% dos produtores de uva entrevistados utilizam até 0,5 hectares para o cultivo do fruto e 23,3% entre 0,5 a 1,5 hectares. A produtividade média da uva foi de 16.930 quilos por hectare (kg/ha).
Dentre as cultivares citadas, destacam-se a Niagara Rosada, a Izabel Precoce, a Carmem, a Vitória e a Bordô. A cultivar Niágara Rosada foi a mais citada pelos produtores entrevistados e representou 35,37% do volume de produção amostrado. O rendimento médio da ‘Niagara Rosada’ foi de 13.792 kg/ha.
Dentre os principais problemas fitossanitários citados pelos produtores entrevistados, têm destaque, em primeiro lugar, o míldio (Plasmopara viticola) (42,3%), o oídio (Uncinula necator) (21,2%), e, logo em seguida, com 9,6%, a antracnose (Elsinoe ampelina).
Processamento
A pesquisa ouviu 64 agroindústrias, sendo 14 delas especializadas no processamento de uvas. A maior parte desses empreendimentos está localizada em áreas rurais, nos municípios de Santa Teresa, Guarapari, Domingos Martins e Colatina, e utiliza a própria produção para transformar a fruta em vinhos, sucos, espumantes e geleias.
De acordo com o diagnóstico, o vinho é o principal produto fabricado, representando quase 50% do volume processado. A produção também inclui polpa para suco (31,6%), suco pronto (13,7%) e espumantes (5,8%).
A comercialização dos produtos derivados da uva é feita majoritariamente dentro do próprio estado, mas 35,7% das agroindústrias já vendem para outros estados, como Minas Gerais e Rio de Janeiro. Nenhuma das empresas pesquisadas exporta seus produtos, o que configura mais uma oportunidade de expansão para o setor.
Embora o Espírito Santo tenha colhido 3,2 mil toneladas de uvas em 2022, apenas 495 toneladas foram destinadas ao processamento. A maior parte da produção estadual ainda é voltada ao consumo in natura. No estudo, as agroindústrias apontaram uma série de desafios que ajudam a explicar esse cenário, como a sazonalidade da matéria-prima, a estrutura das instalações e a dificuldade de acesso a capital de giro, fatores que limitam a capacidade de ampliação do processamento e o aproveitamento industrial da fruta.
“Esse diagnóstico é importante para identificar gargalos e oportunidades na cadeia produtiva da uva. Ele pode embasar políticas públicas mais eficientes, focadas na agroindustrialização e comercialização de produtos derivados da uva, que favorecem o desenvolvimento regional, a geração de renda e o fortalecimento da agricultura familiar”, destaca a pesquisadora Edileuza Galeano, uma das autoras do trabalho.
A pesquisa também identificou um cenário de otimismo: 63,6% dos produtores têm a intenção de manter sua área de plantio e 22,7% querem ampliar suas lavouras. Todas as agroindústrias entrevistadas pretendem aumentar a produção, e a maioria planeja ampliar os investimentos em tecnologia nos próximos anos. A maior parte já realiza o controle de custos, fluxo de caixa e registro de vendas, além de utilizar redes sociais e marketing digital para divulgação dos produtos.
Recomendações
Na produção, o diagnóstico aponta para a necessidade de melhorar as práticas de manejo, a produtividade e a qualidade da uva, com foco na sustentabilidade da atividade. Os trabalhos de Pesquisa e Assistência Técnica e Extensão Rural podem contribuir concentrando esforços para desenvolver sistemas produtivos com menores custos de implantação e produção, principalmente relacionado à estrutura de sustentação das videiras e o desenvolvimento de cultivares tolerantes a pragas e doenças.
O estudo apresenta ainda um conjunto de recomendações para que o Espírito Santo avance na consolidação de um polo vitivinícola mais competitivo e sustentável. Entre as ações sugeridas estão a promoção de visitas técnicas a agroindústrias com maior nível de tecnologia, tanto dentro quanto fora do estado, e o estímulo à implantação de sistemas de rastreabilidade dos frutos adquiridos pelas agroindústrias, visando garantir matéria-prima de melhor qualidade e fortalecer a inserção em mercados mais exigentes.
Também são apontadas a necessidade de capacitações voltadas para a venda online (incluindo estratégias de marketing digital, adequação de rótulos e embalagens), bem como o incentivo à diversificação da produção, com o desenvolvimento de novos produtos, como suco de uva em pó e derivados funcionais a partir do bagaço da uva. Outro ponto relevante é a capacitação em gestão financeira, com foco na criação de estratégias que minimizem os impactos das oscilações de mercado sobre os custos e preços finais.
A pesquisa sobre a cadeia produtiva capixaba da uva teve o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (Fapes), por meio do edital de Inovação para Gestão Pública e Competitividade. As publicações dos resultados tiveram o apoio da Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag), por meio do Banco de Projetos de Pesquisa.
Mais detalhes sobre o estudo podem ser conferidos nos artigos publicados recentemente nos periódicos científicos Journal of Agricultural Science (clique aqui para acessar) e revista Delos (acesse aqui).
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